domingo, 31 de outubro de 2010

Dilma precisará desenvolver perfil mais conciliador

Plantão | Publicada em 31/10/2010 às 21h31m
Reuters/Brasil Online

SÃO PAULO (Reuters) - A candidata do PT, Dilma Rousseff, venceu a eleição presidencial neste domingo, mas agora terá pela frente o desafio de desenvolver um perfil mais de negociação e conciliação, disseram analistas políticos ouvidos pela Reuters.

Veja comentários sobre desafios políticos de Dilma.

RICARDO ISMAEL, CIENTISTA POLÍTICO, PUC-RIO:

"Dilma terá o desafio de montar um governo com uma base de sustentação heterogênea e muito fisiológica, uma negociação em que os desafios são grandes. Ela não tem muita experiência em lidar com políticos e partidos. Nessa área, ela terá que chamar pessoas com aptidão para assessorá-la.

Lula vai ser sempre uma sombra, porque sai muito bem avaliado e por todas as suas características e por ter um diálogo muito direto com a população.

Nessa relação com a sociedade, ela não se sentiu à vontade. Na sua campanha, foi Lula quem assumiu o embate político e a mobilização. Falar pelo teleprompter é mais fácil. Ela tem perfil mais gerencial, de tocar ministério, programas. Fazer tudo isso sem Lula, será um desafio. Resta saber como ela fará."

RUBENS FIGUEIREDO, CIENTISTA POLÍTICO, CEPAC:

"Acho que a Dilma vai ter problema pela característica da eleição que ela protagonizou. É muito mais fácil você fazer uma coalizão quando você tem um presidente treinado na negociação e que tem uma aprovação alta.

Ela (Dilma) não tem tradição histórica no PT. Ela tem uma experiência muito pequena na negociação parlamentar, e ela não tem o talento na comunicação que o Lula tem.

Acho que tudo fica dependendo da performance econômica. Se a economia for bem, ela pode ter condições de atrair forças políticas.

Acho que a oposição renasceu na campanha... O PSDB cresceu como partido. Como a campanha foi muito acirrada, acho que a oposição sai com mais moral para fazer oposição."

ROBERTO ROMADO, CIENTISTA POLÍTICO, UNICAMP:

"É uma vitória, mas não com margem imensa, totalmente diferente da eleição de Lula, com mais de 60 por cento.

É evidente que a presidente terá uma base muito mais forte no Congresso. Se Lula tivesse essa base que Dilma terá, muito provavelmente não teríamos Dilma eleita, porque Lula se candidataria a um terceiro mandato.

Vejo que ela precisará de muita diplomacia para reconhecer que sua vitória não foi acachapante, que existe uma oposição e um quadro de desequilíbrio (com vitórias da oposição em governos estaduais). Mas o perfil dela não é o do Lula, que é um conciliador. Ela tem perfil técnico, mais de comando e demonstrou ao longo do tempo que esteve à frente da Casa Civil que é mais intransigente."

CARLOS MELO, CIENTISTA POLÍTICO, INSPER

"Você tem um problema muito mais sério na oposição. A oposição terá que se reinventar. Com relação ao governo Dilma, você tem desafios. Um desafio é dar uma homogeneidade para essa base grande (da coligação).

Como se faz para dar continuidade a um crescimento de 7,5 por cento? Você precisa de reformas, precisa de um sistema político que hoje não temos, vai ter que ser inventado.

Você teve uma vitória da continuidade, mas essa continuidade não se dará de forma tranquila. A oposição não sai enfraquecida em virtude dos governos estaduais que foram conquistados nesse processo.

Acho que cabe um reordenamento no campo do governo. Por exemplo, que papel terá o PSB, partido que cresceu muito, daqui para frente? Haverá também um reordenamento na oposição."

(Reportagem de Maria Pia Palermo e Eduardo Simões)

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