A presidente eleita, Dilma Rousseff (PT), já estava com as malas colocadas dentro do carro para uma viagem de descanso quando foi chamada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao Palácio do Planalto, ontem pela manhã. Ao recebê-la, Lula disse que estava preocupado com as notícias sobre a montagem do governo, consequência da disputa por cargos entre os partidos da coligação.
Lula sugeriu a Dilma que tomasse o processo de formação do governo exclusivamente em suas mãos, para evitar que se transforme numa crise política antes mesmo da posse, em 1.º de janeiro.
Observou ainda que sabe muito bem o que ocorre nesses momentos, em que uma porção de lados tenta garantir o espaço num futuro governo, à base de fofocas e de todo tipo de rasteiras possíveis.
Assim, embora tenha declarado para os jornalistas que em sua cabeça funciona a tese do 'rei morto, rei posto', para se referir ao momento de transição na chefia do Executivo, Lula acabou por revelar que ainda está bem vivo e com plena influência sobre a sucessora.
Ele a fez atrasar a viagem e a conceder, a seu lado, uma entrevista coletiva cujo objetivo foi um só: acalmar os partidos aliados e dizer que montagem de ministério agora não vale.
Fator PMDB. De acordo com informação de bastidores, Lula considerou falha tanto a atitude de Dilma quanto a de seus principais colaboradores - o presidente do PT, José Eduardo Dutra, o secretário-geral do partido, José Eduardo Martins Cardozo, e outros petistas, como Marco Aurélio Garcia -, que na segunda-feira fizeram uma reunião com a eleita para tratar da fase de transição de governo e não chamaram ninguém do PMDB.
No dia seguinte, diante de um PMDB muito irritado, Dilma anunciou a escolha de seu vice, Michel Temer (PMDB-SP), para coordenar a equipe de transição. Na opinião do presidente, de acordo com informação de bastidores, a reunião sem ninguém do PMDB foi um grande erro. E erros desse tipo dão margem para o aumento das fofocas, brigas e rasteiras num momento muito sensível, que é o da montagem do governo.
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