sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Empreiteiro quer mais tempo de Lula

O empreiteiro Emílio Odebrecht propôs, em reunião fechada com empresários na Firjan, um mandato presidencial maior para enfrentar a crise, que necessita de medidas duras.

A afirmação foi entendida como a defesa de um novo mandato para Lula e fez os demais presentes "caírem para trás", segundo um deles. (O Globo - págs. 1 e 10)

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

"Se o Chávez pode..." (Carlos Chagas)

BRASÍLIA - Estão consolidadas as instituições brasileiras? Sem dúvida. Cumprem-se as decisões do Judiciário. O Legislativo funciona de acordo com seus próprios postulados. O Executivo administra sem contestações. União, estados e municípios não atropelam as respectivas atribuições. As forças armadas mantêm-se no limite de seus deveres constitucionais.

A imprensa trabalha com plena liberdade, assim como os advogados exercem suas prerrogativas sem limitações. As diversas religiões praticam seus credos livres de qualquer constrangimento.

Pois é. Agora vejam o que disse o presidente Lula, sexta-feira, na Venezuela: "A consolidação das instituições permite a quaisquer partidas condições de propor a reeleição permanente, e aos parlamentos de aprová-la." Referia-se às pretensões do presidente Hugo Chávez de perpetuar-se no poder, até elogiando as instituições consolidadas daquele país.

Mas o que vale para a Venezuela não vale para o Brasil? Ou estariam nossas instituições incompletas ou em frangalhos?

Basta tirar as conclusões, apesar de o presidente brasileiro, na mesma ocasião, haver declarado pela milésima vez não pretender candidatar-se ao terceiro mandato. Só que agora foi mais longe. Chegou a observar que Fernando Henrique Cardoso só não pleiteou mais um período por causa da situação econômica, afirmação que o sociólogo está obrigado a desmentir, se puder, ele que eleito para um mandato mudou a Constituição e ficou outro.

Para bom entendedor, dois passos à frente, um passo atrás. O Lula está mais perto da meta que repudia mas vai tornando viável. Ou o Reino Unido, a Espanha e a Alemanha, como disse, não dispõem de governos longos?

É bom prestar atenção num segundo comentário do Lula sobre reeleições continuadas: "(...) Isso pode acontecer. Na hora em que você tiver instituições consolidadas e tiver a liberdade política que o povo quiser, isso vai acontecer". Acontecer onde, carapálida? Para quem duvidava, apesar das contradições, sucedem-se as evidências...
Fazer o quê?

O desemprego vem em ondas, como o mar. Pelo jeito, não mais em marolinhas, mas em tsunamis. Pelo menos, 650 mil fechamentos de postos de trabalho registraram-se até dezembro, dos quais 120 mil naquele mês.

Aguardam-se novas medidas do governo para estimular as empresas a produzir e como consequência evitar mais demissões. As indústrias insistem numa equação capenga, ou seja, aceitam a ajuda mas não se comprometem com a preservação dos empregos.

Para o presidente da República e seus ministros, tanto quanto para os empresários, trata-se de uma questão teórica, essa de retomar o crescimento, estimular o crédito e evitar o desemprego. Pode-se acrescentar que também para os dirigentes sindicais, aqueles que dispõem de estabilidade e ainda se penduram em cargos DAS.

No intervalo de suas prolongadas reuniões, saem todos para almoçar e jantar, uns em restaurantes de luxo, outros atrás de pratos feitos, mas sem preocupações com a subsistência. De noite, repousam sem pensar no pagamento do aluguel ou se a mulher e os filhos deixarão de ir às compras ou à escola. O desemprego, para os que cuidam dele, parece tão distante quanto as nuvens.

Agora, é bem diferente para o operário que chegou à fábrica e soube estar despedido. Por enquanto, ele ainda recebe pequena indenização, se é que a FIESP não conseguiu flexibilizá-la nas reuniões de ontem à noite, mas a perspectiva aberta a partir da demissão é pavorosa. Sair atrás do seguro-desemprego adiantará muito pouco. Peregrinar atrás de outro trabalho será humilhante, depois de múltiplas tentativas fracassadas.

Governo, empresários e sindicalistas precisariam sentir, na pele, as agruras da demissão em massa. Só assim chegariam rápido a soluções eficazes, daquelas que o elitismo impede.

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Oposição vê articulação por terceiro mandato para Lula

BRASÍLIA - Nem mesmo o recesso do Congresso impediu a oposição de acusar o Planalto de articular um "golpe" para aprovar, em meio à reforma política, o terceiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O presidente do PPS, Roberto Freire, passou a semana advertindo colegas sobre a possibilidade, aberta com a futura instalação de uma comissão especial na Câmara.

No mês passado, a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara barrou três propostas de emendas constitucionais que abriam brechas para a possível aprovação de um terceiro mandato. Mas, como a CCJ deu parecer favorável a outras 62 propostas de emenda que mudam o rito político, a Câmara terá de se debruçar sobre o assunto em 2009. Na comissão especial a ser criada, será possível a apresentação de novas emendas. Daí, o temor de parte da oposição de que ressurja a discussão sobre a possibilidade de uma nova reeleição.
Crise

A preocupação de oposicionistas aumentou quando o deputado Carlos Willian (PTC-MG), da base de sustentação do governo, avisou que já se prepara para apresentar proposta que permitirá ao presidente Lula buscar um novo mandato. "O discurso do governo e as sinalizações de um terceiro mandato são um absurdo completo", afirmou Freire. "Há cheiro de golpe no ar." Para ele, só a crise financeira mundial e a mobilização da sociedade podem demover aliados de Lula da ideia de "se perpetuar no poder".

"Apenas o agravamento da crise, que infelizmente creio que irá ocorrer, e a incapacidade do governo frente à ela pode demover o PT da ideia de mais um mandato. O PT sabe que o Lula é um candidato forte, mas a sociedade pode e deve se mobilizar", afirmou Freire. Para o deputado, o governo e o próprio presidente Lula "não têm nenhum compromisso com a democracia".

Relator da reforma política, o deputado João Paulo Cunha (PT-SP), já deu reiteradas declarações que não há tentativa de golpe ou de terceiro mandato em vista. Para ele, a oposição está vendo "fantasmas" em plena luz do meio-dia. Lula também já disse em diversas ocasiões que não há possibilidade de concorrer em 2010, e vem se dedicando a viabilizar a candidatura da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff.

Ao alertar sobre uma suposta articulação por uma nova eleição de Lula, Freire desconsidera uma proposta que vai no sentido contrário e que é vista com simpatia por governistas e líderes da oposição: o fim da reeleição e a extensão dos mandatos de chefes do Executivo de quatro para cinco anos. A ideia já recebeu o apoio dos governadores de São Paulo, José Serra, e de Minas Gerais, Aécio Neves, ambos do PSDB. Também já foi defendida pelo presidente Lula.
Sem respaldo

Líder do PSDB na Câmara, o deputado José Aníbal (PSDB) também vê com preocupação a discussão sobre um terceiro mandato de Lula, mas acredita que a tese não terá ressonância no Congresso. "Não acredito que a Câmara e o Senado possam dar sequência a isso", disse.

O líder tucano não poupou críticas à tentativa de reforma política em curso. "Aquilo não passa de reforma eleitoral. Reforma política de verdade é pensar em mudar a relação entre o eleitor e o eleitorado", comentou.

Aníbal destacou que, ao analisar as 62 propostas de emendas constitucionais aprovadas na CCJ no mês passado, o que se vê são apenas tentativas de mudanças no calendário eleitoral. "A discussão ficou em cima de mandato de quatro ou cinco anos, de reeleição ou não e de coincidência das eleições em todos os níveis de representação", observou.

domingo, 11 de janeiro de 2009

Popularidade, credibilidade, continuidade (Helio Fernandes)

Para o presidente Lula ler e meditar

Lula pode estar mesmo com alto índice de popularidade. Acostumados a errar, os institutos parece que acertaram desta vez: o presidente teria ultrapassado todos os índices de aprovação, domina a nobreza, o clero e o povo.

De que adianta isso? Para que serve a popularidade, num regime capitalista-democrático? Para a conquista de mais Poder? Ou para utilizar o já conquistado e servir a comunidade? Nem uma coisa nem outra, tudo precisa passar pelo liquidificador da análise.

E nesse processo de análise-interpretação, nada se perde, tudo se transforma, mais jamais em benefício do povo, da massa, da coletividade. O povo, que é a alavanca da produção, não é favorecido com a distribuição. Os que mandam em tudo têm uma convicção arraigada: a distribuição compromete e ameaça o capitalismo.

Por isso, quando surge algum regime ou sistema que “ameaça” com nova distribuição da riqueza (produção), são logo rotulados como revolucionários. Por trás dessa identificação, o capitalismo todo-poderoso, que se insurge contra o que chama de “revolução”. E garante que fala em nome e em defesa do povo.

O capitalismo tem suas regras, seu modo de agir, seus medos, suas teorias e suas formas de combater. Está sempre no Poder, não apenas por ambição, mas por necessidade. E nesse jogo que dura uma eternidade, tem seus ídolos, seus ódios e suas paixões.

São sempre citados. De um lado, Marx, do outro Maquiavel, embora sejam mais citados do que lidos. Outros, mais sábios e estudiosos, preferem colocar nos seus devaneios, Marx e Jesus Cristo, o que transforma Maquiavel num personagem de menor importância. Ou seja: da política ocasional, opcional, eventual.

90 por cento dos medíocres políticos brasileiros são chamado de “maquiavélicos” porque fazem carreira enganando a todos. Vide Cesar Maia, Tião Viana, Sérgio Cabral, Aldo Rebelo, Michel Temer, Geddel Vieira, Orestes Quércia e mais e mais. O que fizeram pelo povo, pela comunidade, pela democracia?

A popularidade é sempre ocasional, não cria obrigatoriamente credibilidade, nem gera continuidade. Que é o que interessa ao nosso personagem principal, Luiz Inácio Lula da Silva. Sem credibilidade e sem a imaginária continuidade, Lula pergunta a si mesmo: “De que adianta POPULARIDADE, se temos que ir para casa?”

Suas convicções também sofrem mutações. Apesar de se julgar infalível (“meu governo fez mais do que todos os outros juntos”), Lula tem lampejos de intuições e superstições (não as mesmas de Napoleão, mas muito semelhantes) e começa a desconfiar dessa eternidade do poder. Para ele ou para alguém indicado por ele.

Em determinado momento da caminhada, Lula se jactava, que palavra, do terceiro mandato seguido, quase infalível. Mas 1 ano depois, disse ao Montenegro do Ibope: “Não quero o terceiro mandato seguido, de modo algum”. O dono do Ibope acreditou e exagerou nos números e na certeza de que Lula não queria mesmo.

Agora as coisas estão todas com sinais trocados, Lula já considera que o terceiro mandato seguido para ele é mais do que intuição, é uma determinação divina. Convencido disso, voltou a fazer o que faz de melhor: exaltar a si mesmo. E se não deixou um momento sequer de se empolgar, não pensava mais em continuidade. Agora, a continuidade é a alavanca e a forja da popularidade e da credibilidade. Para ele.

PS – Estamos agora diante daquele Lula no meio do primeiro mandato, que foi ao Gabão e voltou magnetizado: “Que coisa, o presidente está há 38 anos no Poder”.

PS 2 – Sua satisfação era visível e gloriosa. É razoável estabelecer comparação do distante Gabão ao presente Brasil? Não avancemos. Até 2010, muita coisa acontecerá.