Leia os principais trechos da entrevista concedida por Dilma nesta quinta
A presidente Dilma Rousseff disse nesta quinta-feira (6) que o governo
vai "ter de fazer o dever de casa" e apertar o controle da inflação, mas
seguiu enigmática sobre como fará para recolocar o Brasil em rota de
crescimento.
Ela negou veementemente que pratique "estelionato eleitoral", como diz a oposição, ao defender agora ajustes para recuperar a economia.
"Vamos ter de fazer nosso dever de casa aqui. Apertar o controle da inflação. Vamos ter limites dados pela nossa restrição fiscal para fazer toda uma política anticíclica que poderia ser necessária agora. Mas vamos ter limites", disse Dilma, usando o jargão para momentos de crise em que o governo investe para reanimar a economia.
Dilma recebeu oito jornalistas de veículos impressos no Palácio do Planalto. Mais descontraída, ela usou poucas vezes o tradicional "meu querido", cacoete que denota a impaciência da petista.
"Nós temos problema interno com a inflação." Dilma prometeu combater a alta de preços, mas se recusou a falar sobre a alta de juros promovida pelo Banco Central semana passada. Apenas adiantou que "não pretende mexer nos intervalos de tolerância da meta de inflação", nem tampouco no seu centro, atualmente de 4,5%.
"As pressões estão começando a ficar mais diluídas, uma vez que os preços internacionais estão cadentes", disse, acrescentando que tudo indica que a seca diminuirá no Nordeste e no Sudeste.
Ajuste
"Temos que fazer ajustes em várias coisas, não é só cortar gastos", afirmou Dilma, recusando-se a dar mais detalhes. "Várias contas que podem ser reduzidas", e que ela promete "olhar com lupa". Em seguida, criticou a defesa de austeridade do PSDB. "Essa visão de corte de gastos é similar àquela ideia maluca de choque de gestão. Eu não vendo o que não consigo entregar."
Corte de ministérios
"Outra lorota", disse Dilma. Segundo ela, uma redução no número de pastas não traria economia real e ainda afetaria áreas envolvidas no plano de concessões, como portos e aeroportos. "Não tiro o ministério da Micro e Pequena Empresa nem que a vaca tussa". Já a "Pesca não saiu do chão ainda. Ela vai decolar".
Gastos
A presidente não quis especificar quais contas reduzirá, mas apontou como opção mexer nas regras de pensão por morte, tornando-as mais rígidas, e nas regras do seguro desemprego, hoje "um grande patrocinador de fraudes". Sobre abono salarial, não quis sinalizar o que poderia fazer. Depois, brincou: "Eu vou levar em consideração a sugestão da imprensa".
Estelionato
Ela negou que o reconhecimento da necessidade de um ajuste para retomar o crescimento da economia configure estelionato eleitoral, como acusa a oposição. "Onde é que está o tarifaço? Ele já aconteceu! Essa história de que nós represamos [tarifas] é lorota. Ao longo do ano inteiro houve pagamento pelo uso de [usinas] térmicas. O governo suavizou um pouco para não ser aquele impacto."
Ela não inclui na sua conta o financiamento tomado pelas empresas de energia, que deverá impactar na conta do ano que vem.
Crescimento
"Esse é o grande desafio nosso, e eu não acho que tem uma receita prontinha que nós devemos segui-la à risca para crescer", disse. Mas prometeu "não desempregar". "A minha esperança é que o Brasil terá uma recuperação. Enquanto isso, espero que o mundo também tenha."
Estados Unidos
"Os pragmáticos cresceram. Quem são os pragmáticos? Os Estados Unidos são o pragmático dos pragmáticos. 'Não salvem empresas privadas [fala como numa terceira pessoa]!' Eles vão lá e salvam a indústria automobilística. 'Não coloque esta quantidade de moedas na economia'. Eles vão lá e colocam. 'Não salvem bancos!'. Eles vão lá e salvam."
Ministro da Fazenda
Dilma afirmou que ainda não fez nenhum convite para o ministério. Questionada sobre a possibilidade de nomear Luiz Trabuco, executivo do Bradesco cogitado para a Fazenda, ela contou: "Eu conversei com ele uma vez [desde a eleição], eu não minto, ele me disse simplesmente que me cumprimentava e, como sempre, ao longo de todo o processo, que estava disponível para ajudar no que fosse necessário, não significando isso que ele estava se oferecendo para nada. Ele estava sendo gentil, da mesma forma que o Abílio Diniz e outros tantos". Ela prometeu anunciar sua nova equipe econômica ao retornar do G20, sem definir data exata, mas antes do resto do novo ministério.
Crise mundial
"Os emergentes têm ainda espaço para voltar a crescer", afirmou, sem deixar de avaliar que um quadro mais permanente de queda no preço das commodities internacionais afetará "feio a América Latina", que pode "sofrer" com redução de demanda.
Questionada se o ano de 2015 verá um "tsunami" ou uma "marolinha", para usar o termo de Lula, disse: "Não bota isso na minha boca porque isso foi de um outro momento, de início da crise".
'É típico" do PT'
Dilma foi questionada pela Folha sobre a beligerante resolução petista quando falava sobre suas promessas de diálogo com a oposição. "Eu não represento o PT. Represento a Presidência. A opinião do PT é a opinião do partido, não me influencia. Represento o país, não sou presidente do PT, sou presidente dos brasileiros."
A resolução, aprovada pela Executiva Nacional do partido na segunda-feira (3), associou Aécio a "forças neoliberais" com nostalgia da ditadura militar, ao racismo e ao machismo. Para a presidente, é uma queixa partidária.
Bolivarianismo
Questionada sobre críticos que acusam seu governo de bolivarianismo, uma referência a políticas de esquerda populistas na América Latina, Dilma fez elogios a um artigo publicado pela Folha comparando Brasil e Venezuela ("Venezuelização?", do correspondente em Caracas, Samy Adghirni, publicada em 4/11).
"Só faltei beijar ele [o autor], porque ele mostra que é uma vergonha tratar os dois países como iguais. É uma excrescência, porque não tem similaridade", disse Dilma.
"Querido, essa história de bolivarianismo está eivada de camadas de preconceitos contra o meu governo", afirmou, usando o tratamento que dá quando quer ser assertiva. "O mais estarrecedor é que cheguei à conclusão de que o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, integrado pelo PIB brasileiro, é bolivariano", brincou, ao comentar uma das justificativas usadas pelo Congresso Nacional para rejeitar seu polêmico decreto sobre conselhos populares.
Elite deselegante
"O povo não é bobo, o povo é muito esperto. Como são gentis, como são elegantes. É uma pequena elite que é deselegante, que xinga e que maltrata. O povo não faz isso", disse, comentando a campanha eleitoral. "Na campanha você se arrepende do que não falou."
Petrobras
Dilma voltou a dizer que as investigações da Operação Lava Jato criam uma "oportunidade" para coibir a impunidade no país. Repetiu o discurso de campanha, de que não quer engavetar investigações, ainda que o atual procurador-geral da República tenha feito isso em 82 ocasiões envolvendo políticos desde 2013.
Sobre o presidente afastado da subsidiária Transpetro, citado no caso, disse não saber se Sérgio Machado volta ao cargo. "Eu não acho nada."
Eduardo Cunha
Dilma foi perguntada sobre o desafeto Eduardo Cunha, o líder do PMDB que é favorito para ser presidente da Câmara no ano que vem. O partido é seu maior aliado. Dilma parou, fechou o semblante e, com sorriso irônico, disse: "Estamos convivendo há muito tempo com ele", encerrando o assunto e provocando risos.
PEC da Bengala
Sobre a chamada PEC da Bengala, que voltou a ser articulada entre setores do Supremo Tribunal Federal e Congresso para permitir a aposentadoria de juízes aos 75 anos (e não 70, como hoje), Dilma disse ser "muito ruim". A PEC pode tirar do PT a prerrogativa de chegar a 2018 com a indicação de 10 dos 11 ministros da corte.
Dívidas dos Estados
Em relação à renegociação do indexador das dívidas dos Estados, aprovada ontem pelo Senado e que irá para sua sanção, Dilma sinalizou que poderá exercer o poder de veto. "É complicado", disse, se houver retroatividade comprovada da medida. "Tudo para trás estoura a bolsa da viúva", disse. Mas ressalvou que "ainda estamos estudando"
Ela negou veementemente que pratique "estelionato eleitoral", como diz a oposição, ao defender agora ajustes para recuperar a economia.
"Vamos ter de fazer nosso dever de casa aqui. Apertar o controle da inflação. Vamos ter limites dados pela nossa restrição fiscal para fazer toda uma política anticíclica que poderia ser necessária agora. Mas vamos ter limites", disse Dilma, usando o jargão para momentos de crise em que o governo investe para reanimar a economia.
Dilma recebeu oito jornalistas de veículos impressos no Palácio do Planalto. Mais descontraída, ela usou poucas vezes o tradicional "meu querido", cacoete que denota a impaciência da petista.
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Inflação
"Nós temos problema interno com a inflação." Dilma prometeu combater a alta de preços, mas se recusou a falar sobre a alta de juros promovida pelo Banco Central semana passada. Apenas adiantou que "não pretende mexer nos intervalos de tolerância da meta de inflação", nem tampouco no seu centro, atualmente de 4,5%.
"As pressões estão começando a ficar mais diluídas, uma vez que os preços internacionais estão cadentes", disse, acrescentando que tudo indica que a seca diminuirá no Nordeste e no Sudeste.
Ajuste
"Temos que fazer ajustes em várias coisas, não é só cortar gastos", afirmou Dilma, recusando-se a dar mais detalhes. "Várias contas que podem ser reduzidas", e que ela promete "olhar com lupa". Em seguida, criticou a defesa de austeridade do PSDB. "Essa visão de corte de gastos é similar àquela ideia maluca de choque de gestão. Eu não vendo o que não consigo entregar."
Corte de ministérios
"Outra lorota", disse Dilma. Segundo ela, uma redução no número de pastas não traria economia real e ainda afetaria áreas envolvidas no plano de concessões, como portos e aeroportos. "Não tiro o ministério da Micro e Pequena Empresa nem que a vaca tussa". Já a "Pesca não saiu do chão ainda. Ela vai decolar".
Gastos
A presidente não quis especificar quais contas reduzirá, mas apontou como opção mexer nas regras de pensão por morte, tornando-as mais rígidas, e nas regras do seguro desemprego, hoje "um grande patrocinador de fraudes". Sobre abono salarial, não quis sinalizar o que poderia fazer. Depois, brincou: "Eu vou levar em consideração a sugestão da imprensa".
Estelionato
Ela negou que o reconhecimento da necessidade de um ajuste para retomar o crescimento da economia configure estelionato eleitoral, como acusa a oposição. "Onde é que está o tarifaço? Ele já aconteceu! Essa história de que nós represamos [tarifas] é lorota. Ao longo do ano inteiro houve pagamento pelo uso de [usinas] térmicas. O governo suavizou um pouco para não ser aquele impacto."
Ela não inclui na sua conta o financiamento tomado pelas empresas de energia, que deverá impactar na conta do ano que vem.
Crescimento
"Esse é o grande desafio nosso, e eu não acho que tem uma receita prontinha que nós devemos segui-la à risca para crescer", disse. Mas prometeu "não desempregar". "A minha esperança é que o Brasil terá uma recuperação. Enquanto isso, espero que o mundo também tenha."
Estados Unidos
"Os pragmáticos cresceram. Quem são os pragmáticos? Os Estados Unidos são o pragmático dos pragmáticos. 'Não salvem empresas privadas [fala como numa terceira pessoa]!' Eles vão lá e salvam a indústria automobilística. 'Não coloque esta quantidade de moedas na economia'. Eles vão lá e colocam. 'Não salvem bancos!'. Eles vão lá e salvam."
Ministro da Fazenda
Dilma afirmou que ainda não fez nenhum convite para o ministério. Questionada sobre a possibilidade de nomear Luiz Trabuco, executivo do Bradesco cogitado para a Fazenda, ela contou: "Eu conversei com ele uma vez [desde a eleição], eu não minto, ele me disse simplesmente que me cumprimentava e, como sempre, ao longo de todo o processo, que estava disponível para ajudar no que fosse necessário, não significando isso que ele estava se oferecendo para nada. Ele estava sendo gentil, da mesma forma que o Abílio Diniz e outros tantos". Ela prometeu anunciar sua nova equipe econômica ao retornar do G20, sem definir data exata, mas antes do resto do novo ministério.
Crise mundial
"Os emergentes têm ainda espaço para voltar a crescer", afirmou, sem deixar de avaliar que um quadro mais permanente de queda no preço das commodities internacionais afetará "feio a América Latina", que pode "sofrer" com redução de demanda.
Questionada se o ano de 2015 verá um "tsunami" ou uma "marolinha", para usar o termo de Lula, disse: "Não bota isso na minha boca porque isso foi de um outro momento, de início da crise".
'É típico" do PT'
Dilma foi questionada pela Folha sobre a beligerante resolução petista quando falava sobre suas promessas de diálogo com a oposição. "Eu não represento o PT. Represento a Presidência. A opinião do PT é a opinião do partido, não me influencia. Represento o país, não sou presidente do PT, sou presidente dos brasileiros."
A resolução, aprovada pela Executiva Nacional do partido na segunda-feira (3), associou Aécio a "forças neoliberais" com nostalgia da ditadura militar, ao racismo e ao machismo. Para a presidente, é uma queixa partidária.
Bolivarianismo
Questionada sobre críticos que acusam seu governo de bolivarianismo, uma referência a políticas de esquerda populistas na América Latina, Dilma fez elogios a um artigo publicado pela Folha comparando Brasil e Venezuela ("Venezuelização?", do correspondente em Caracas, Samy Adghirni, publicada em 4/11).
"Só faltei beijar ele [o autor], porque ele mostra que é uma vergonha tratar os dois países como iguais. É uma excrescência, porque não tem similaridade", disse Dilma.
"Querido, essa história de bolivarianismo está eivada de camadas de preconceitos contra o meu governo", afirmou, usando o tratamento que dá quando quer ser assertiva. "O mais estarrecedor é que cheguei à conclusão de que o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, integrado pelo PIB brasileiro, é bolivariano", brincou, ao comentar uma das justificativas usadas pelo Congresso Nacional para rejeitar seu polêmico decreto sobre conselhos populares.
Elite deselegante
"O povo não é bobo, o povo é muito esperto. Como são gentis, como são elegantes. É uma pequena elite que é deselegante, que xinga e que maltrata. O povo não faz isso", disse, comentando a campanha eleitoral. "Na campanha você se arrepende do que não falou."
Petrobras
Dilma voltou a dizer que as investigações da Operação Lava Jato criam uma "oportunidade" para coibir a impunidade no país. Repetiu o discurso de campanha, de que não quer engavetar investigações, ainda que o atual procurador-geral da República tenha feito isso em 82 ocasiões envolvendo políticos desde 2013.
Sobre o presidente afastado da subsidiária Transpetro, citado no caso, disse não saber se Sérgio Machado volta ao cargo. "Eu não acho nada."
Eduardo Cunha
Dilma foi perguntada sobre o desafeto Eduardo Cunha, o líder do PMDB que é favorito para ser presidente da Câmara no ano que vem. O partido é seu maior aliado. Dilma parou, fechou o semblante e, com sorriso irônico, disse: "Estamos convivendo há muito tempo com ele", encerrando o assunto e provocando risos.
PEC da Bengala
Sobre a chamada PEC da Bengala, que voltou a ser articulada entre setores do Supremo Tribunal Federal e Congresso para permitir a aposentadoria de juízes aos 75 anos (e não 70, como hoje), Dilma disse ser "muito ruim". A PEC pode tirar do PT a prerrogativa de chegar a 2018 com a indicação de 10 dos 11 ministros da corte.
Dívidas dos Estados
Em relação à renegociação do indexador das dívidas dos Estados, aprovada ontem pelo Senado e que irá para sua sanção, Dilma sinalizou que poderá exercer o poder de veto. "É complicado", disse, se houver retroatividade comprovada da medida. "Tudo para trás estoura a bolsa da viúva", disse. Mas ressalvou que "ainda estamos estudando"
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