Petistas históricos pressionam Dilma a manter o rumo à esquerda
11/11/2014 14:06
Por Redação - de Brasília
Por Redação - de Brasília
Apenas duas semanas depois que as urnas consagraram à atual presidenta da República, Dilma Rousseff, um novo mandato de quatro anos, as disputas internas em seu governo começam a ganhar um contorno mais definido. Petista fiel e líder de parte da militância do partido, ainda que não possa se expressar com liberdade – posto cumprir pena em regime domiciliar –, o ex-ministro José Dirceu traçou em seu blog, nesta terça-feira, uma de suas raras críticas à condução da política econômica. “A semana não começa bem e o que temos não nos parece nada bom”, disparou Dirceu.
“Esse anúncio do ministro da Fazenda, Guido Mantega, de que o governo prepara cortes de gastos e redução de subsídios como parte dos ajustes na política econômica para segundo mandato da presidenta Dilma Rousseff decididamente não prenuncia boa coisa”, acrescentou. Em recente entrevista, Mantega revelou que o governo pretende cortar subsídios dos programas sociais.
– Precisamos realizar consolidação fiscal, sem estímulos fiscais para a economia. Temos de caminhar para uma alta gradual do (superávit) primário ante 2014 – disse.
Segundo o ministro, o superávit primário, economia que o governo faz para pagar os juros da dívida pública, deverá fechar 2015 entre 2% e 2,5% do Produto Interno Bruto (PIB). Mantega acrescentou, sem dar mais detalhes, que no próximo ano o governo pretende reduzir os subsídios financeiros nos empréstimos do BNDES e promover, também, reduções nos pagamentos de auxílio-doença, que hoje chegam a R$ 70 bi por ano, e na pensão por morte, que chega a R$ 90 bi.
O fim dos subsídios – política anticíclica – deve ocorrer por dois motivos, de acordo com o ministro: o primeiro é que o nível de atividade mundial vai se recuperar e isso vai ser positivo para a expansão do país; o segundo – o que implica, também, num reconhecimento feito pelo ministro – é que as contas públicas precisam de ajustes, focados na redução de despesas. “Isso dá recessão”, avisa Dirceu.
“Corte gastos com aumento de juros – como o decretado pelo Comitê de Política Monetária (COPOM) do Banco Central (BC) recentemente – é receita certa para recessão e crise social. Tampouco é boa a perspectiva de que a presidenta Dilma vete alguns itens do projeto de renegociação da dívida de Estados e municípios com a União, aprovado semana passada”, seguiu.
Ainda segundo o ex-ministro, “vetar o que foi aprovado pelo Congresso Nacional nessa negociação da dívida pode ser um tiro no pé dado as tradicionais relações ruins, em muitos momentos, do governo com o Legislativo e os partidos da base. Há receio de que o governo vete, principalmente, o item do projeto que possibilita retroatividade na renegociação das dívidas”.
“Toda essa dívida não passa de papel sem nenhum valor e devia ser renegociada nas melhores condições possíveis, no limite para permitir aos Estados e municípios investir na infra estrutura e nas cidades – na educação, na juventude, na mobilidade urbana e na logística viária, no saneamento, em cultura e lazer. E cuidar, também, das exportações e da redução das importações. Tudo para investir ainda mais para o país crescer, arrecadar mais e melhorar as contas públicas”, alerta.
Dirceu propõe que haja uma “redução drástica e já dos juros, liberando quase R$ 100 bi dos R$ 200 bi hoje destinados a pagar os juros altíssimos – únicos em todo mundo – que pagamos pelo serviço de nossa dívida interna. Aí, sim, dá para se discutir um aumento do superávit e equilíbrio progressivo das contas públicas e externas do país”.
Tempo quente
Não é apenas o petista histórico que se rebela contra a aproximação do governo Dilma aos preceitos da direita. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, segundo o jornalista Leandro Mazzini escreveu em sua coluna, no Correio do Brasil, e a presidenta Dilma “estão rompidos”.
“Uma pequena mostra foi a breve aparição do ex-presidente no palanque da vitória no domingo da eleição. Depois, ele se foi e Dilma discursou sozinha. A razão da pendenga é a que todos pensam: ele capitaliza as duas vitórias dela e quer opinar mais; e Dilma quer independência – pelo menos no segundo governo. Dilma soltou um: ‘Desta vez será do meu jeito’, para ministros palacianos. Há poucos dias, ela e Lula tiveram uma conversa numa tentativa de afinação”, diz a nota do colunista.
Nesta manhã, foi a vez da ministra da Cultura, Marta Suplicy, deixar sua carta de demissão na Casa Civil. O gesto atende a uma sugestão do ministro chefe da pasta, Aloizio Mercadante. Ele teria dito aos demais ministros que peçam demissão até o dia 18, quando Dilma retorna do encontro do G20, na Austrália. A medida visa deixar a presidenta mais à vontade para efetuar as mudanças na equipe do próximo governo.
Na carta, a ex-prefeita de São Paulo não se faz de rogada e culpa a área econômica do governo Dilma pelas “inúmeras demandas e carências orçamentárias” da pasta que ocupou e diz que focou seu trabalho “em valores que nos são precisos”. A petista saiu atirando ao fazer críticas à política econômica, desejando que a presidente “seja iluminada ao escolher sua nova equipe de trabalho, a começar por uma equipe econômica independente, experiente e comprovada, que resgate a confiança e credibilidade ao seu governo”.
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